AUDIÊNCIA GERAL: BENTO XVI INICIA CICLO DE CATEQUESES DEDICADAS A SÃO PAULO.
Cidade do Vaticano, 02 jul (RV) - À distância de poucos dias do início do Ano Paulino, Bento XVI
iniciou esta manhã um novo ciclo de catequeses dedicadas ao Apóstolo dos Gentios. De fato, na audiência geral realizada na Sala Paulo VI, no Vaticano, o Santo Padre ofereceu aos presentes uma reflexão sobre o ambiente no qual viveu e atuou São Paulo, reiterando a atualidade dessa figura “quase inimitável”.
Uma figura, acrescentou, da qual os cristãos do nosso tempo ainda têm muito a aprender.
A audiência geral desta manhã foi a última antes de um período de repouso de verão europeu, que será interrompido por ocasião do Dia Mundial da Juventude de Sydney.
E no final desta tarde, às 18h locais, o pontífice deixou a residência apostólica vaticana transferindo-se de helicóptero para a residência pontifícia de verão de Castel Gandolfo.
Mas voltemos à catequese desta manhã.
É justo reservar um lugar particular a São Paulo, não somente na veneração, “mas também no esforço de compreender aquilo que tem a dizer também a nós, cristãos de hoje”: foi a exortação dirigida por Bento XVI aos fiéis em sua primeira catequese dedicada ao Apóstolo dos Gentios: “O apóstolo Paulo, figura excelsa e quase inimitável, mas sempre estimuladora, está diante de nós como exemplo de total dedicação ao Senhor e à sua Igreja, bem como de grande abertura à humanidade e às suas culturas.”
Por outro lado, observou, “não é possível compreender adequadamente São Paulo sem colocá-lo no contexto tanto judaico quanto pagão de seu tempo”. Por isso, o pontífice quis iniciar esse ciclo de catequeses sobre São Paulo detendo-se justamente sobre o ambiente no qual o Apóstolo viveu e atuou.
Um contexto sociocultural de dois mil anos atrás, ressaltou o papa, que sob vários aspectos não difere do de hoje. Em tal âmbito, disse, um fator primário a ser considerado é a relação entre o ambiente no qual Paulo nasceu e o contexto no qual sucessivamente se inseriu.São Paulo, recordou o pontífice, vem de uma cultura bem precisa, a cultura do povo de Israel.
Os judeus, explicou, representavam então cerca de 10% da população total do império romano: “Seus credos e o seu estilo de vida, como se dá ainda hoje, os distinguiam nitidamente do ambiente circunstante; e isso podia ter dois resultados: ou a zombaria, que podia levar à intolerância, ou a admiração, que se expressava em várias formas de simpatia como no caso dos temerosos de Deus ou dos prosélitos.
”Havia quem, como Cícero, desprezava os judeus, e quem, ao invés, como Júlio César, lhes havia reconhecido direitos particulares.
Portanto, também Paulo é objeto de uma “dupla, contrastante avaliação”. Todavia, ressaltou, o particularismo da religião judaica encontrava tranqüilamente lugar dentro do império romano: “Será mais difícil e sofrida a posição do grupo daqueles, judeus e gentios, que aderiram com fé à pessoa de Jesus de Nazaré, na medida em que eles se distinguiam tanto do judaísmo quanto do paganismo imperante.”
Em todo caso, acrescentou, o empenho de Paulo foi favorecido por dois fatores: a cultura grega, ou melhor, helenista, e a estrutura político-administrativa do império romano que garantia paz e estabilidade da Britânia ao Egito.
A visão universalista típica da personalidade de São Paulo, prosseguiu, “deve certamente o seu impulso de base à fé em Jesus Cristo, na medida em que a figura do Ressuscitado se coloca acima de toda e qualquer limitação particularista”.
Todavia, observou Bento XVI, também a situação cultural e ambiental de seu tempo não pode deixar de ter tido uma influência em suas escolhas: “Há quem tenha definido Paulo como ‘homem de três culturas’, considerando a sua matriz judaica, a sua língua grega, e a sua prerrogativa de ‘civis romanus’ (cidadão romano, ndr), como atesta também o nome de origem latina.”Deve-se fazer uma menção particular à filosofia estóica que influenciou, embora de modo marginal, também o cristianismo, disse o papa. E citou alguns filósofos como Zenon e Sêneca nos quais se encontram “valores altíssimos de humanidade e sabedoria” acolhidos pelo cristianismo: “Basta pensar, por exemplo, na doutrina do universo entendido como um único grande corpo harmonioso, e conseqüentemente na doutrina da igualdade entre todos os homens sem distinções sociais, na equiparação ao menos em princípio entre o homem e a mulher, e depois no ideal da moderação, da justa medida e do domínio de si para evitar todo excesso.”
No momento das saudações em várias línguas, que se dá após a catequese da audiência geral, o pontífice encorajou os jovens a serem “pedras vivas” da Igreja vivendo o Evangelho com generosidade e responsabilidade.
Saudando os presentes de língua portuguesa, eis o que disse o Santo Padre: “Amados peregrinos vindos do Brasil e todos os presentes de língua portuguesa, de coração vos saúdo com votos de que esta vossa paragem junto do túmulo dos Príncipes dos Apóstolos, Pedro e Paulo, revigore os laços cristãos que fazem de todos nós a mesma e única Igreja espalhada até aos confins do mundo.
Que o amor de Deus reine nos vossos corações… e a terra será nova. As maiores felicidades para cada um de vós e vossos queridos, com a Bênção que vos dou em nome do Senhor.”